sábado, 15 de agosto de 2009

Palavras iniciais:

Este Blog...
Prezados amigos, sempre fui muito chegado à obra de São João Bosco.

Quando bem jovem tive em mãos um livro fantástico, chamado "Las Aventuras de Don Bosco", de Hugo Wast. Recomendo a todos este livro que me marcou profundamente.

Depois disso comecei a procurar a obra deste Santo, para conhecê-lo melhor. Assim deparei-me com o livro "Vida y Obra de San Juan Bosco" da BAC (Biblioteca de Autores Cristianos), ai tive contato com os sonhos de São João Bosco e sempre tive uma forte impressão dessas mensagens recebidas do céu.

São João Bosco recebia em sonhos informações, prenúncios, avisos e comunicações providenciais, como ocorreu com inúmeras almas escolhidas. Para dar um exemplo, o próprio São José que foi visitado por um anjo em sonhos, o qual veio tranquilizá-lo, e revelar-lhe a condição de Mãe do Salvador de sua casta esposa, Nossa Senhora.

Com relação aos sonhos de São João Bosco, o Papa Pio IX, ordenou-lhe que consignasse tudo por escrito, em seu sentido literal e de forma detalhada, para maior estímulo dos filhos da Congregação Salesiana.

Sempre quis conhecer os sonhos na sua integridade, e buscando na Internet, esperava achar alguém da família Salesiana que compartisse este tesouro na Internet. Depois de muitas buscas, não encontrei os sonhos em português, nem sequer as obras de um de meus santos de devoção.

Tive vontade, então, de colocar meu grãozinho de areia neste apostolado. Refleti comigo que, se eu era tão atraído por estas coisas, certamente outros haveria que se interessassem. e decidi fazer estas traduções e disponibilizá-las na Internet.

A.M.D.G.

Os Sonhos de São João Bosco


Relatados pelo próprio Santo

DOM BOSCO: Padre dos Jovens

Joãozinho Bosco nasceu em 16 de agosto de 1815 numa pequena fração de Castelnuovo D’Asti, no Piemonte (Itália), chamada popularmente de “os Becchi”.

Ainda criança, a morte do pai fez com que experimentasse a dor de tantos pobres órfãos dos quais se fará pai amoroso. Em Mamãe Margarida, porém, teve um exemplo de vida cristã que marcou profundamente o seu espírito.

Aos nove anos teve um sonho profético: pareceu-lhe estar no meio de uma multidão de crianças ocupadas em brincar; algumas delas, porém, proferiam blasfêmias. Joãozinho lançou-se, então, sobre os blasfemadores com socos e ponta-pés para fazê-los calar; eis, contudo, que se apresenta um Personagem dizendo-lhe: “Deverás ganhar estes teus amigos não com bastonadas, mas com a bondade e o amor... Eu te darei a Mestra sob cuja orientação podes ser sábio, e sem a qual, qualquer sabedoria torna-se estultícia”. O Personagem era Jesus e a Mestra Maria Santíssima, sob cuja orientação se abandonou por toda a vida e a quem honrou com o título de “Auxiliadora dos Cristãos”.

Foi assim que João quis aprender a ser saltimbanco, prestidigitador, cantor, malabarista, para poder atrair a si os companheiros e mantê-los longe do pecado. “Se estão comigo, dizia à mãe, não falam mal”. Desejando fazer-se padre para dedicar-se totalmente à salvação das crianças, enquanto trabalhava de dia, passava as noites sobre os livros, até que, aos vinte anos, pode entrar no Seminário de Chieri e, em 1841, ser ordenado Sacerdote em Turim, aos vinte e seis anos. Turim, naqueles tempos, estava cheia de jovens pobres em busca de trabalho, órfãos ou abandonados, expostos a muitos perigos para alma e para o corpo. Dom Bosco começou a reuni-los aos domingos, às vezes numa igreja, outras num prado, ou ainda numa praça para fazê-los brincar e instruí-los no Catecismo até que, após cinco anos de grandes dificuldades, conseguiu estabelecer-se no bairro periférico de Valdocco e abrir o seu primeiro Oratório.

Os garotos encontravam aí alimento e moradia, estudavam ou aprendiam uma profissão, mas sobretudo aprendiam a amar o Senhor: São Domingos Sávio era um deles. Dom Bosco era amado incrivelmente pelos seus “molequinhos” (como os chamava). A quem lhe perguntava o segredo de tanta ascendência, respondia: “Com a bondade e o amor, eu procuro ganhar estes meus amigos para o Senhor”. Sacrificou por eles seu pouco dinheiro, seu tempo, seu engenho, que era agudíssimo, sua própria saúde. Com eles se fez santo. Para eles fundou a Congregação Salesiana, formada por sacerdotes e leigos que querem continuar a sua obra e à qual deu como “finalidade principal apoiar e defender a autoridade do Papa”.

Querendo estender o seu apostolado também às meninas, fundou, com Santa Maria Domingas Mazzarello, a Congregação das Filhas de Maria Auxiliadora. Os Salesianos e as Filhas de Maria Auxiliadora espalharam-se pelo mundo todo a serviço dos jovens, dos pobres e dos que sofrem, com escolas de todos os tipos e graus, institutos técnicos e profissionais, hospitais, dispensários, oratórios e paróquias. Dedicou todo o seu tempo livre subtraído, muitas vezes, ao sono, para escrever e divulgar opúsculos fáceis para a instrução cristã do povo.

Foi, além de um homem de caridade operosa, um místico entre os maiores. Toda a sua obra foi haurida na união íntima com Deus que, desde jovem, cultivou zelosamente e desenvolveu no abandono filial e fiel ao plano que Deus tinha predisposto para ele, guiado passo a passo por Maria Santíssima, que foi a Inspiradora e a Guia de toda a sua ação.

Sua perfeita união com Deus foi, talvez como em poucos Santos, unida a uma humanidade entre as mais ricas pela bondade, inteligência e equilíbrio, à qual se acrescenta o valor de um conhecimento excepcional do espírito, amadurecido nas longas horas passadas todos os dias no ministério das confissões, na adoração ao Santíssimo Sacramento e no contato contínuo com os jovens e com pessoas de todas as idades e condições.

Dom Bosco formou gerações de santos porque levou os seus jovens ao amor de Deus, à realidade da morte, do julgamento de Deus, do Inferno eterno, da necessidade de rezar, de fugir do pecado e das ocasiões que levam a pecar, e de aproximar-se freqüentemente dos Sacramentos.

“Meus caros, eu vos amo de todo o coração, e basta que sejais jovens para que vos ame muitíssimo”. Amava de tal forma que cada um pensava ser o predileto.

“Encontrareis escritores muito mais virtuosos e doutos do que eu, mas dificilmente podereis encontrar alguém que vos ame mais em Jesus Cristo, e mais do que eu deseje a vossa verdadeira felicidade”.

Extenuado em suas forças pelo incessante trabalho, adoentou-se gravemente. Particular comovente: muitos jovens ofereceram ao Senhor a própria vida por ele. “... Aquilo que fiz, eu o fiz para o Senhor... Poder-se-ia ter feito mais... Mas os meus filhos o farão... A nossa Congregação é conduzida por Deus e protegida por Maria Auxiliadora”.

Uma de suas recomendações foi esta: “Dizei aos jovens que os espero no Paraíso...”. Expirava em 31 de janeiro de 1888, em seu pobre quartinho de Valdocco, aos 72 anos de idade. Em 1º de Abril de 1934, foi proclamado santo pelo papa Pio XI, que teve a felicidade de conhecê-lo.

A Missão Futura – Sonho de 1824

Este sonho é o primeiro de uma série, com que a Divina Providência ilustrou a vida de São João Bosco, e aconteceu no ano 1824, quando o santo contava nove anos de idade; sendo seu cenário a aldeia de Becchi, pertencente a Castelnuovo do Asti, no Piamonte. Vivia então o menino João Bosco com sua mãe Margarida Occhiena, com a avó paterna e com dois irmãos mais: Antonio, filho do primeiro matrimônio do pai (já defunto), e José, primogênito de Margarida e de Francisco Bosco.

Conta o mesmo São João Bosco

Aos nove anos tive um sonho que ficou profundamente impresso durante toda a minha vida.
Pareceu-me estar perto de minha casa; em um amplo pátio no que uma grande multidão de meninos se divertia. Uns riam, outros jogavam e não poucos blasfemavam. Para não ouvir aquelas blasfêmias me arrojei imediatamente em meio deles, empregando meus punhos e minhas palavras para fazê-los calar. Naquele momento apareceu um Homem de aspecto venerável, de idade viril, nobremente vestido. Um manto branco cobria toda sua pessoa e seu rosto era tão resplandecente, que eu não podia olhá-lo com fixidez. Chamou-me por meu nome e me ordenou que me pusesse à frente daqueles moços acrescentando estas palavras:

—Não com golpes, mas com mansidão e caridade deverás ganhar estes teus amigos. Coloca-te, pois, imediatamente a lhes fazer uma instrução sobre a feiúra do pecado e sobre a beleza da virtude.
Confuso e aturdido lhe repliquei que eu era um pobre menino ignorante; incapaz de falar de religião a aqueles jovens. Naquele momento os moços cessaram suas rixas, berros e blasfêmias, rodeando-me e ouvindo a quem falava. Eu, sem saber o que me dizia, acrescentei:
—Quem é o Senhor e por que me manda coisas impossíveis?
—Precisamente porque parecem impossíveis, deves torná-los possíveis com a obediência e com o estudo da ciência.
—Onde e com que meios poderei apreender a ciência?
—Eu te darei a Mestra baixo cuja guia poderás chegar a ser sábio e sem a qual toda ciência é vã.
—Mas quem é o Senhor que me fala dessa maneira?
—Eu sou o Filho daquela a quem tua mãe ensinou-te a saudar três vezes ao dia.
—Minha mãe me tem dito que não me junte com quem não conheço sem sua permissão; por isso, me diga seu nome.
—Meu nome, pergunta a minha Mãe.

Naquele momento vi junto a Ele, a uma Senhora de majestoso aspecto, vestida com um manto que resplandecia por toda parte como se cada ponto dele fosse uma belíssima estrela. A me ver cada vez mais confuso com minhas perguntas e respostas, indicou-me que me aproximasse dEla; e tomando-me da mão bondosamente:

—Olha! —Disse-me.
Observei a meu redor e me dava conta de que todos aqueles meninos tinham desaparecido e em seu lugar vi uma multidão de cabritos, cães, gatos, ursos e outros animais diversos.
Eis aqui o campo no qual deves trabalhar —continuou dizendo a Senhora—. Faz-te humilde, forte e corajoso, e o que vês neste momento que sucede a estes animais, você terá que fazê-lo com meus filhos.
Voltei então a olhar e eis aqui que, ao invés dos animais ferozes apareceram outros tantos cordeiros que, pulando e balindo, corriam a rodear a Senhora e ao Senhor para lhes festejar.
Então, sempre em sonhos, comecei a chorar e roguei a Aquela Senhora que me explicasse o significado de tudo aquilo, pois eu nada compreendia. Então Ela, me pondo a mão sobre a cabeça, disse-me:
—Com o tempo compreenderás tudo.
Dito isto, um som despertou-me e tudo desapareceu.
A interpretação do sonho de São João Bosco
por seus familiares

Eu fiquei desconcertado. Parecia-me que as mãos doíam pelos golpes que tinha dado e a cara pelas bofetadas recebidas daqueles jovens. Além disso, a presença daquele Personagem e daquela Senhora; as coisas ditas e ouvidas, absorveram-me a mente de tal modo, que em toda a noite não consegui conciliar meu sono. Na manhã seguinte contei imediatamente o sonho, em primeiro lugar, a meus irmãos, que começaram a rir; depois, a minha mãe e à avó. Cada um o interpretou a sua maneira. Meu irmão José disse:
—Sem dúvida serás pastor de cabras, de ovelhas e de outros animais.
Minha mãe:
—Quem sabe se algum dia chegarás a ser sacerdote!
Antonio disse com tom zombador:
—Talvez chegues a ser capitão de bandidos.
Mas a minha avó, que sabia muita teologia embora fosse analfabeta, deu a sentença definitiva dizendo:
—Não deves fazer caso dos sonhos.
Eu era do parecer da avó; contudo, não foi possível apagar da minha mente aquele sonho.

O Beato Papa Pio IX pede a São João
Bosco para escrever os sonhos para
o bem dos outros
O que exporei a seguir emprestará alguma elucidação ao que antecede. Nunca mais voltei a contar este sonho; meus parentes não lhe deram importância; mas quando no ano 1858 fui a Roma para tratar com o beato Papa Pio IX sobre a Congregação Salesiana, o Sumo Pontífice me fez contar-lhe minuciosamente tudo aquilo que tivesse apenas aparências de sobrenatural. Então narrei pela primeira vez o sonho que tive à idade de nove anos.
O Papa ordenou-me que consignasse tudo por escrito, em seu sentido literal e de forma detalhada, para maior estímulo dos filhos da Congregação, em cujo interesse havia eu realizado aquela viajem a Roma.
(Memórias Biográficas 3 Vol. 1, págs. 122-126.—Memórias do Oratório págs. 22-26)

Admoestação do Céu —1830

O presente sonho está somente esboçado nas Memórias do Oratório com estas palavras:
"Por aquele tempo tive outro sonho, no qual fui severamente admoestado, por ter posto minha esperança nos homens e não no Pai Celestial".
Para compreender o significado destas palavras, temos que recordar um fato decisivo da infância de São João Bosco.

São João Bosco conhece o seu primeiro protetor aos 10 anos; Dom José Calosso

Era uma tarde do ano 1825; voltava João da Butigliera, alegre aldeia próxima ao Becchi. Tinha ido só com o piedoso fim de assistir a uma Missão que ali se dava, para lucrar o Jubileu do Ano Santo, concedido por Leão XIII e estendido já ao círculo católico.

Seu porte era grave e sereno; sua compostura e recolhimento, chamaram poderosamente a atenção de um sacerdote que lhe seguia: Dom José Calosso, capelão da aldeia de Murialdo. O sacerdote, fazendo ao menino sinal de que se aproximasse, perguntou-lhe quem era, de onde vinha e por que sendo de tão curta idade, ia aos sermões da Missão, acrescentando:

—Certamente tua mãe teria feito uma conversa melhor e mais adequada a tua idade e condição.

Joãozinho afirmou que, em efeito, as conversas de sua mãe eram muito proveitosas, mas que lhe agradava ouvir os missionários; aos quais entendia perfeitamente, e para demonstrá-lo foi repetindo ao sacerdote, quase literalmente, os sermões ouvidos ponto por ponto.

Maravilhado o virtuoso capelão dos dotes de engenho do pequeno, perguntou-lhe emocionado:

—Você gostaria de estudar?
—Muito! —replicou Joãozinho —. Mas não posso.
—Quem lhe impede isso?
—Meu irmão Antonio, pois diz que estudar é perder o tempo; que é melhor que me dedique às tarefas do campo.
—E você, para que quereria estudar?
—Para chegar a ser sacerdote.
—E para que desejas ser sacerdote?
—Para poder instruir a muitos de meus companheiros que não são maus, mas que chegarão a sê-lo se ninguém se ocupa deles.

Dom Calosso, comovido perante esta maneira de raciocinar, tomou sob seu amparo ao menino, dando-lhe aula durante os invernos de 1827 e 1828.

Dom José Calosso falece quando
São João Bosco tinha 15 anos

Mas numa manhã de outono de 1830, enquanto João se encontrava em sua aldeia nativa visitando sua mãe, recebe aviso de voltar rapidamente para Murialdo, pois seu bom professor Dom Calosso, atacado repentinamente de enfermidade mortal, chama-lhe com urgência. Voou João ao lado de seu benfeitor, ao qual encontrou desgraçadamente no leito, perdido já o uso da palavra. O moribundo pôde reconhecer ao amado discípulo a quem fez sinal de aproximar-se, e fazendo um esforço supremo lhe consignou uma chave que guardava debaixo do travesseiro, assinalando a mesa de seu escritório. O discípulo tomou a chave, ajoelhou-se junto ao leito de seu benfeitor e ali permaneceu aflito e suplicante até que o professor, e amigo de sua alma faleceu, sem ter podido articular palavra.

Morto Dom Calosso, chegaram os sobrinhos; João lhes entregou a chave recebida de seu professor dizendo:

—Seu tio me entregou esta chave indicando-me que não a desse a ninguém. Várias pessoas me asseguram que é meu quanto a gaveta da mesa contém, mas Dom Calosso nada me disse expressamente. Prefiro minha pobreza a ser causa de desgostos. Eles tomaram a chave e quanto havia na gaveta da mesa.

A morte do benfeitor foi um verdadeiro desastre para o João. Amava a Dom Calosso meigamente. Sua lembrança ficou gravada para sempre em sua alma, deixando consignados estes sentimentos em suas Memórias com estas palavras:

"Sempre roguei a Deus por este meu benfeitor, e, enquanto viva, não deixarei de rezar por ele".

Conhecido este episódio e o estado de ânimo do jovem estudante, é fácil compreender o significado e alcance deste sonho.
(M. B. Tomo I, pág. 218.—M. O. Década 1 -4, págs. 43-44)