sábado, 15 de agosto de 2009

As quatorze mesas; São João Bosco vê o estado de virtude dos seus jovens— 1860

Em 5 de agosto de 1860 se celebrou no Oratório com toda solenidade a festividade de Nossa Senhora das Neves.
São João Bosco fechou a jornada narrando depois de ás orações da noite, o seguinte sonho:
"Encontravam-se todos meus jovens em um lugar tão ameno como o mais formoso dos jardins, sentados ante umas mesas que subindo da terra em forma de degraus, elevavam-se tanto que quase não se divisavam as últimas. Estas mesas, largas e espaçosas, eram quatorze, dispostas em um amplo anfiteatro e divididas em três ordens, sustentadas cada uma por uma espécie de muro em forma de aterro.
Na parte baixa, ao redor de uma mesa colocada no chão nu e desprovida de todo adorno e sem baixela alguma, vi certo número de jovens. Estavam tristes; comiam a contra gosto e tinham diante de si um pão semelhante ao de ração que dão aos soldados, mas tão rançoso e cheio de mofo que dava asco. Este pão estava no centro da mesa misturado com sujeiras e imundícies. Aqueles pobrezinhos estavam como os animais imundos nas pocilgas. Eu lhes quis dizer que arrojassem longe aquele pão, mas me tive que contentar perguntando por que tinham ante si tão nauseabundo alimento.
Responderam-me:
— Temos que comer o pão que nós mesmos nos preparamos, pois não temos outro.
Aquilo representava aos que estavam em pecado mortal.
Dizem os Provérbios no Capítulo I: "Odiaram a disciplina e não abraçaram o temor de Deus e não emprestaram atenção a meus conselhos, e se mofaram de todas minhas correções. Comerão, portanto, o fruto de suas obras e se saciarão de seus pensamentos".
Mais à medida que as mesas subiam, os jovens se mostravam mais alegres e comiam um pão de melhor qualidade. Eram os comensais muito formosos; dotados de uma beleza cada vez mais esplendorosa. As riquíssimas mesas às quais estavam sentados estavam cobertas de toalhas primorosamente trabalhadas, sobre as quais brilhavam castiçais, ânforas, taças, floreiros de um valor indescritível, pratos com viandas deliciosas, objetos de um preço inestimável. O número destes jovens era grande.
Representava aquilo aos pecadores convertidos.
Finalmente, nas últimas mesas colocadas no mais alto, tinham um pão que não saberia descrever. Parecia amarelo... vermelho... e da mesma cor do pão eram os vestidos e dos jovens resplandecia o rosto circundado de uma luminosidade suave. Estes gozavam de uma alegria extraordinária e cada um procurava fazer partícipe de seu gozo ao companheiro. Por sua beleza, luminosidade e esplendor superavam em muito a quantos ocupavam postos inferiores.
Isto representava o estado de inocência.
Dos inocentes e dos convertidos afirma o Espírito Santo no Capítulo I dos Provérbios: "quem me escuta gozará de um sereno repouso, viverá na abundância, livre do temor dos maus".
Mas o mais surpreendente é que reconheci a todos aqueles jovens, desde o primeiro ao último, de forma que ao ver agora a cada um deles me parece contemplá-lo lá sentado em seu sítio da mesa que lhe correspondia. Enquanto não podia ocultar minha maravilha ante tal espetáculo, impossível de compreender então vi um homem lá ao longe.
Corri a fazer-lhe algumas perguntas, mas tropecei com algo e despertei, encontrando-me no leito".
Vós me pedistes que lhes contasse um sonho e eu lhes agradei, mas ao mesmo tempo lhes recomendo que não lhe façam mais caso do que os sonhos se merecem.
Ao dia seguinte, São João Bosco indicou a cada um o lugar que ocupava nas mesas. Ao fazê-lo começaram a contar da mais alta até chegar a mais baixa.
Perguntaram-lhe a São João Bosco se a gente podia subir de uma mesa inferior a outra superior. Respondeu que sim, menos àquela que estava por cima de todas, pois os que descendiam dela não podiam voltar a ocupar mais aquele lugar de privilégio. Era o posto reservado aos que conservavam a inocência batismal, o número destes era tão exíguo como grande o dos segundos e terceiros.
Dom Domingo Ruffino e Dom João Turchi que estavam pressentes e que ouviram o relato do sonho, legaram-nos testemunho do mesmo e os nomes de alguns dos que estavam sentados na primeira mesa.
Mais que agradecidos, consignaremos alguns dados sobre as duas afortunadas testemunhas e coetâneos de São João Bosco, que nos legaram o texto do sonho que acabamos de relatar.
Dom Domingo Ruffino era natural do Giaveno e foi um dos primeiros professos da Sociedade de São Francisco de Sales, em 14 de maio de 1862.
Segundo dados que nos oferecem as Memórias Biográficas, Dom João Turchi foi ordenado sacerdote em 1861, celebrando a sua primeira Missa em 26 de maio do mesmo ano.
(M. B. Volume VI, págs. 708-709)

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