sábado, 15 de agosto de 2009

Encontro com o Rei Carlos Alberto — 1847

A gratidão e o afeto que São João Bosco sentia para o Rei Carlos Alberto foi posto de manifesto repetidas vezes pelo Santo, como o testemunham as Memórias Biográficas.

Depois de fazer referência à liberação de Roma pelas tropas francesas e à entrega das chaves da Cidade Eterna ao Papa Pio IX pelo general Oudinot, Dom Lemoyne continua:
"Mas se (São) João Bosco recebeu um grande consolo ao conhecer esta notícia, chegou ao Turim outra que causou uma profunda dor a ele e a seus filhos. Gravemente doente de uma antiga doença, no Porto e afligido sob o peso da desventura, Carlos Alberto, confortado com os auxílios de nossa Santa Religião, morreu como um bom cristão em 28 de julho de 1847. (São) João Bosco fez rezar, como era seu dever, por um soberano ao qual estimava e amava sobremaneira e que em repetidas ocasiões tinha ajudado e protegido a sua instituição.

Sua dor vinha junto a uma grande esperança, pois o monarca tinha sido muito devoto de (Nossa Senhora) Consolata e sua caridade para com os pobres tinha sido excepcional. Sobre seu féretro não pairavam as asas das angustiosas duvidas que às vezes há no coração sobre o destino eterno de uma alma, ao contrario como uma amável lembrança que ocupava a mente de (São) João Bosco, de quando em quando, a figura do Carlos Alberto, reverdecia na fantasia de nosso fundador, e assim, alguns anos depois contava a dois de seus filhos este gracioso pesadelo que lhe tinha durado toda a noite:
Pareceu que me encontrava nos arredores do Turim, passeando pelo centro de uma grande avenida. Quando eis que vem a meu encontro o Rei Carlos Alberto, o qual, sorridente, deteve-se a saudar-me.

— Oh, Majestade! — exclamei.
— Como está você, João Bosco?
— Muito bem, e me alegro muito de lhe ver.
— Se for assim, quer-me acompanhar a dar um passeio?
— Com muito gosto.
— Pois, vamos!

Pusemo-nos a caminho da cidade. O Rei não levava posta nenhuma insígnia que declarasse sua dignidade; vestia roupas brancas, embora não de tudo brancas.

— O que pensa de mim? — perguntou-me o monarca.
— Sei que é um bom católico — repliquei-lhe.
— Para Você, sou algo mais que isso; sabe como amei sempre sua obra. Sempre tive o maior desejo de vê-la prosperar. Ter-me-ia gostado muitíssimo ajudá-lo, mas os acontecimentos me impediram de fazê-lo.
— Se for assim, majestade, atrever-me-ia a lhe fazer um pedido.
— Fale, fale.
— Pedir-lhe-ia que presidisse a festa de São Luis Rei que vamos celebrar no Oratório este ano.
— Com muito prazer: mas tenha presente que a coisa daria muito que falar; seria algo inaudito, por isso parece que não é conveniente uma festa tão soada. Contudo, verei a maneira de agradá-lo, até sem minha presença.

Continuamos falando de outras coisas até que chegamos perto do Santuário da Consolata. Em dito lugar havia como uma entrada subterrânea na encosta de uma elevada colina e a galeria a que dava acesso, em vez de descender, subia.

— Terei de passar por aqui — disse-me o Rei.

E dobrando os joelhos e tocando quase o chão com sua majestosa frente, sem trocar de postura, começou a subir e desapareceu.

Então, enquanto eu examinava aquela entrada e procurava penetrar com a vista a escuridão das trevas, despertei".
Comparando a data deste sonho comprovamos que pouco depois, no Oratório se recebeu um generoso donativo da Casa Real.

O coração de Dom Bosco pulsava ao uníssono com o do Rei Carlos Alberto, o Papa Pio IX e São José Benito Cottolengo e a seus jovens esteve reservado a honra de cantar muitas vezes na Catedral a Missa do Réquiem no aniversário da morte do monarca.
(M. B. Tomo III, págs. 539-540)

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