sábado, 15 de agosto de 2009

Grandes funerais na corte— 1854 – Parte I

Este sonho esta dividido em duas partes.
O presente sonho está relacionado com a atitude do Parlamento Piemontês e do ministro Cavour, que pretendiam pôr em vigor a lei Ratazzi, sobre supressão dos bens eclesiásticos e das Ordens religiosas. São João Bosco, prevendo os males que com isso se ocasionariam à Igreja, desejava separar da Casa Real da Sabóia as divinas ameaças que sobre ela se abatiam, e a ele reveladas
E, em conseqüência, eis aqui o sonho que teve por volta de finais do mês de novembro de 1854.
"Pareceu-lhe encontrar-se no lugar onde se levanta o pórtico central do Oratório, obra então em construção, junto à bomba hidráulica colocada na parede da Casinha Pinardi. Estava rodeado de sacerdotes e clérigos. De pronto viu que avançava para o centro do pátio um pajem da Corte vestido de uniforme vermelho, o qual, apressadamente chegou aonde São João Bosco se encontrava, e nosso Santo lhe ouviu gritar:
—Uma grande noticia!
—Que notícia? — perguntou-lhe São João Bosco.
—Anuncia! Grande funeral na Corte! Grande funeral na Corte!
São João Bosco, ante esta imprevista aparição e ao escutar aquele anúncio ficou como petrificado, enquanto o pajem voltava a repetir:
—Grande funeral na Corte!
São João Bosco quis então lhe perguntar algo mais sobre seu fúnebre anúncio, mas ao tentar fazê-lo, o pajem tinha desaparecido.
Havendo despertado, o Santo estava como fora de si, e ao compreender o mistério daquela aparição, tomou a pluma e começou a redigir uma carta dirigida ao Vítor Manuel, pondo nela de manifesto quanto lhe tinha sido anunciado e relatando nela o sonho com toda simplicidade.
Depois do meio-dia chegou ao refeitório com um pouco de atraso. Os jovens recordam ainda como sendo aquele ano de um frio muito intenso, Dom Bosco levava postas umas luvas muito velhas e danificadas e entre as mãos um pacote de cartas. Formou-se então um coro ao seu redor. Estavam pressentes Dom Alasonatti, Ángel Sávio, Cagliero, Francesia, João Turchi, Reviglio, Rúa, Afifossi, Buzzetti, Enría, Tomatis e outros, em sua maioria clérigos. São João Bosco começou a dizer sorrindo:
—Esta manhã, queridos filhos, tenho escrito três cartas a outros tantos personagens: Ao Papa, ao Rei e ao verdugo.
A risada foi geral ao sentir pronunciar unidos os nomes destes três personagens. Quanto à referência do verdugo, a ninguém agarrou de surpresa, pois todos sabiam que o Santo tinha amizade com os empregados do cárcere e que precisamente o verdugo era um cristão exemplar, exercendo a caridade para com os pobres o melhor que podia. Estava acostumado a escrever as solicitações que a gente do povo queria fazer ao Rei ou às autoridades e amargava uma grande pena, pois tinha tido que retirar das escolas públicas a um filho dele, pois os companheiros fugiam dele por ser o filho do verdugo.
Quanto ao Papa Pio IX, ninguém ignorava a correspondência que São João Bosco mantinha com o Vigário de Cristo. Portanto, o que intrigava aos ouvintes era o fato de que o servo de Deus tivesse escrito ao rei, quanto mais que todos sabiam o que o santo pensava sobre a usurpação dos bens da Igreja. São João Bosco lhes manifestou imediatamente quanto tinha escrito ao monarca lhe aconselhando que não permitisse a tramitação de tão infausta lei. Narrou-lhes, pois, o sonho que tinha tido, terminando o relato com estas palavras:
—Este sonho me causou muito mal-estar e me fatigou muito.
São João Bosco parecia muito preocupado naquela ocasião, exclamando de vez em quando:
Quem sabe?... Quem sabe?... Rezemos... rezemos... Surpreendidos os clérigos, ao ouvir o relato do sonho começaram a fazer conjeturas e a perguntar-se mutuamente se se sabia se no palácio real havia algum nobre doente; todos concluíram que nada se podia assegurar sobre o particular.
São João Bosco, enquanto isso, chamando o clérigo Ángel Sávio, entregou-lhe uma carta.
—Cópia esta carta e anuncia ao rei: grande funeral na Corte!
O clérigo Sávio fez o que lhe tinham indicado, mas o Rei, conforme se soube depois pelos confidentes do Monarca, leu o escrito com indiferença e não fez caso do que se lhe dizia.
(Volume V, págs. 176-181)

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