sábado, 15 de agosto de 2009

A Missão Futura – Sonho de 1824

Este sonho é o primeiro de uma série, com que a Divina Providência ilustrou a vida de São João Bosco, e aconteceu no ano 1824, quando o santo contava nove anos de idade; sendo seu cenário a aldeia de Becchi, pertencente a Castelnuovo do Asti, no Piamonte. Vivia então o menino João Bosco com sua mãe Margarida Occhiena, com a avó paterna e com dois irmãos mais: Antonio, filho do primeiro matrimônio do pai (já defunto), e José, primogênito de Margarida e de Francisco Bosco.

Conta o mesmo São João Bosco

Aos nove anos tive um sonho que ficou profundamente impresso durante toda a minha vida.
Pareceu-me estar perto de minha casa; em um amplo pátio no que uma grande multidão de meninos se divertia. Uns riam, outros jogavam e não poucos blasfemavam. Para não ouvir aquelas blasfêmias me arrojei imediatamente em meio deles, empregando meus punhos e minhas palavras para fazê-los calar. Naquele momento apareceu um Homem de aspecto venerável, de idade viril, nobremente vestido. Um manto branco cobria toda sua pessoa e seu rosto era tão resplandecente, que eu não podia olhá-lo com fixidez. Chamou-me por meu nome e me ordenou que me pusesse à frente daqueles moços acrescentando estas palavras:

—Não com golpes, mas com mansidão e caridade deverás ganhar estes teus amigos. Coloca-te, pois, imediatamente a lhes fazer uma instrução sobre a feiúra do pecado e sobre a beleza da virtude.
Confuso e aturdido lhe repliquei que eu era um pobre menino ignorante; incapaz de falar de religião a aqueles jovens. Naquele momento os moços cessaram suas rixas, berros e blasfêmias, rodeando-me e ouvindo a quem falava. Eu, sem saber o que me dizia, acrescentei:
—Quem é o Senhor e por que me manda coisas impossíveis?
—Precisamente porque parecem impossíveis, deves torná-los possíveis com a obediência e com o estudo da ciência.
—Onde e com que meios poderei apreender a ciência?
—Eu te darei a Mestra baixo cuja guia poderás chegar a ser sábio e sem a qual toda ciência é vã.
—Mas quem é o Senhor que me fala dessa maneira?
—Eu sou o Filho daquela a quem tua mãe ensinou-te a saudar três vezes ao dia.
—Minha mãe me tem dito que não me junte com quem não conheço sem sua permissão; por isso, me diga seu nome.
—Meu nome, pergunta a minha Mãe.

Naquele momento vi junto a Ele, a uma Senhora de majestoso aspecto, vestida com um manto que resplandecia por toda parte como se cada ponto dele fosse uma belíssima estrela. A me ver cada vez mais confuso com minhas perguntas e respostas, indicou-me que me aproximasse dEla; e tomando-me da mão bondosamente:

—Olha! —Disse-me.
Observei a meu redor e me dava conta de que todos aqueles meninos tinham desaparecido e em seu lugar vi uma multidão de cabritos, cães, gatos, ursos e outros animais diversos.
Eis aqui o campo no qual deves trabalhar —continuou dizendo a Senhora—. Faz-te humilde, forte e corajoso, e o que vês neste momento que sucede a estes animais, você terá que fazê-lo com meus filhos.
Voltei então a olhar e eis aqui que, ao invés dos animais ferozes apareceram outros tantos cordeiros que, pulando e balindo, corriam a rodear a Senhora e ao Senhor para lhes festejar.
Então, sempre em sonhos, comecei a chorar e roguei a Aquela Senhora que me explicasse o significado de tudo aquilo, pois eu nada compreendia. Então Ela, me pondo a mão sobre a cabeça, disse-me:
—Com o tempo compreenderás tudo.
Dito isto, um som despertou-me e tudo desapareceu.
A interpretação do sonho de São João Bosco
por seus familiares

Eu fiquei desconcertado. Parecia-me que as mãos doíam pelos golpes que tinha dado e a cara pelas bofetadas recebidas daqueles jovens. Além disso, a presença daquele Personagem e daquela Senhora; as coisas ditas e ouvidas, absorveram-me a mente de tal modo, que em toda a noite não consegui conciliar meu sono. Na manhã seguinte contei imediatamente o sonho, em primeiro lugar, a meus irmãos, que começaram a rir; depois, a minha mãe e à avó. Cada um o interpretou a sua maneira. Meu irmão José disse:
—Sem dúvida serás pastor de cabras, de ovelhas e de outros animais.
Minha mãe:
—Quem sabe se algum dia chegarás a ser sacerdote!
Antonio disse com tom zombador:
—Talvez chegues a ser capitão de bandidos.
Mas a minha avó, que sabia muita teologia embora fosse analfabeta, deu a sentença definitiva dizendo:
—Não deves fazer caso dos sonhos.
Eu era do parecer da avó; contudo, não foi possível apagar da minha mente aquele sonho.

O Beato Papa Pio IX pede a São João
Bosco para escrever os sonhos para
o bem dos outros
O que exporei a seguir emprestará alguma elucidação ao que antecede. Nunca mais voltei a contar este sonho; meus parentes não lhe deram importância; mas quando no ano 1858 fui a Roma para tratar com o beato Papa Pio IX sobre a Congregação Salesiana, o Sumo Pontífice me fez contar-lhe minuciosamente tudo aquilo que tivesse apenas aparências de sobrenatural. Então narrei pela primeira vez o sonho que tive à idade de nove anos.
O Papa ordenou-me que consignasse tudo por escrito, em seu sentido literal e de forma detalhada, para maior estímulo dos filhos da Congregação, em cujo interesse havia eu realizado aquela viajem a Roma.
(Memórias Biográficas 3 Vol. 1, págs. 122-126.—Memórias do Oratório págs. 22-26)

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