sábado, 15 de agosto de 2009

A confissão e a comunhão como meios para nossa perseverança e salvação eterna

"Quando os jovens retiraram-se aos dormitórios — continua Dom Provera— perguntei a (São) João Dom Bosco por que suas ordens aos clérigos de que impedissem aos jovens comer as carnes da serpente não tinham conseguido o efeito desejado.

O servo de Deus respondeu-me:

— Não todos obedeceram; pelo contrário, vi alguns dos clérigos, como já disse, comer também daquelas carnes".

Estes sonhos — continua Dom Lemoyne — representam em resumidas contas a realidade da vida. Com as palavras e com os fatos (São) Dom Bosco reflete a realidade da vida, o estado de uma comunidade em que em meio de grandes virtudes, também existem misérias humanas. E não terá que maravilhar-se disso, quanto mais que o vício por sua própria natureza tende a expandir-se mais que a virtude, daqui a necessidade de uma vigilância contínua.

Alguém poderá objetar que teria sido mais conveniente atenuar ou omitir algumas descrições um tanto irritantes; mas nosso parecer não é o mesmo.

Se a história tiver que cumprir seu nobre ofício de mestra da vida, deve descrever o passado tal e como foi em realidade, para que as gerações futuras possam animar-se ante o exemplo do ardor e da virtude dos que lhes precederam e, ao mesmo tempo, conhecer suas faltas e enganos deduzindo deles a prudência com que devem regular os próprios atos.

Uma narração que só apresentasse um lado da realidade histórica conduziria irremediavelmente a um falso conceito da mesma. Enganos e defeitos cometidos repetidas vezes, ao não ser reconhecidos como tais, voltarão a ser causa de novas transgressões sem grande esperança de emenda. Uma mal entendida apologia, de nada serve aos benévolos, nem converte aos mal dispostos; em troca, uma franqueza ilimitada engendra crédito e confiança.

Portanto, nós, ao expor nossa maneira de pensar, diremos, além disso, que (São) João Dom Bosco deu do sonho as explicações mais adequadas às inteligências dos jovens, deixando entrever outras de não menor importância, não as apresentando com toda claridade, porque não acreditou que era chegado o momento oportuno para fazê-lo. Em efeito: nos sonhos vêem que o (Santo) fala não somente do presente, mas também do futuro longínquo, como acontece no (sonho) da roda e em outros que iremos expondo.

As carnes podres do monstro não poderiam significar o escândalo que faz perder a fé; a leitura dos livros imorais, irreligiosos? O que indicam a queda ao chão, o inchaço, a dureza dos membros, a não ser a desobediência ao superior, a soberba, a obstinação no mal, a malícia?

O veneno é o mesmo com que poluiu aquela comida maldita o dragão descrito por Jó no capítulo XLI, que asseguram os Santos Pais ser figura de Lúcifer. O versículo 15 de dito capítulo, diz assim:"Seu coração é duro como a pedra, sólido como a mó fixa de um moinho". E nisso transformasse o coração dos miseráveis envenenados, dos rebeldes obstinados no mal.

E qual será o remédio contra tal dureza? (São) João Dom Bosco emprega um símbolo um tanto escuro, mas que em substância assinala um remédio sobrenatural. Ocorre-nos esta explicação: É necessário que a graça santificante, obtida mediante a oração e com os sacrifícios dos bons, acenda os corações endurecidos e os faça maleáveis; que os dois Sacramentos, isto é, o martelo da humildade (confissão) e a bigorna da Eucaristia sobre o qual o ferro recebe uma forma decisiva, artística, para que depois de ser temperada, possa exercer sua eficácia divina. Que o martelo que golpeia e a bigorna que sustenta concorram a realizar a obra que em nosso caso não é outra que a reforma do coração enfermo, mas dócil ao mesmo tempo. Será então quando este, rodeado de um nimbo de esplêndidos raios de luz, volte a ser o que fora em outro tempo.
(M. B. Volume VII, págs. 238-239)

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