sábado, 15 de agosto de 2009

A Pastora e o rebanho —1844

Conta Dom Bosco em suas Memórias:
"O segundo domingo de outubro daquele ano de 1884, tinha que comunicar a meus moços que o Oratório tinha que ser transladado ao Valdocco. Mas a incerteza do lugar, das pessoas, dos meios com que tinha que contar me tinham bastante preocupado. Na noite precedente fui descansar com o coração cheio de inquietação. Durante toda ela tive um sonho que me pareceu como um apêndice de que tive pela primeira vez em Becchi quando tinha nove anos. Meu desejo é expô-lo aqui literalmente".
"Sonhei que me encontrava em meio de uma grande quantidade de lobos, de cabras, cabritos, cordeiros, ovelhas, cavalos, pássaros, cães... Todos ao mesmo tempo faziam um ruído, um estrépito, ou melhor dizendo, um estrondo diabólico, capaz de infundir espanto ao mais corajoso. Eu quis fugir, quando uma Senhora, admiravelmente vestida de Pastora, indicou-me que seguisse e acompanhasse a aquela estranha grei, enquanto Ela ia diante. Andamos vagando de um lugar a outro: fizemos três estações ou paradas; em cada uma delas muitos daqueles animais se permutavam em cordeiros, cujo número ia progressivamente em aumento. Depois de ter caminhado muito, encontrei-me em um prado, no que aquelas bestas começaram a provocar desordem e a comer ao mesmo tempo, sem que as umas incomodassem às outras.
Afligido pelo cansaço, quis me sentar ao bordo de um caminho próximo, mas a Pastora me convidou a que prosseguisse adiante. Depois de percorrer um breve espaço de terreno, encontrei-me em um amplo pátio com um pórtico ao redor, em cujo extremo havia uma igreja. Então me dava conta de que as quatro quintas partes daqueles animais se converteram em cordeiros. Seu número aumentou. Naquele momento chegaram alguns pastores para custodiá-los, mas depois de deter-se um pouco, partiram. Depois aconteceu algo maravilhoso. Muitos cordeiros se permutavam em pastores, que, ao crescer em número, cuidavam de outros. Ao aumentar tão grandemente o número dos pastores, dividiram-se em grupos e partiram a diversos lugares, para reunir a outros animais estranhos e guiá-los a distintos redis.
Eu quis partir porque me parecia que era a hora de celebrar a Santa Missa, mas a Pastora me convidou a dirigir o olhar ao meio dia. Então vi um campo semeado de milho, batatas, repolhos, beterrabas, alfaces e outras hortaliças.
—Olhe outra vez, — disse-me a Pastora.
E ao dirigir minha vista a aquele mesmo lugar, vi uma magnífica igreja.
Uma orquestra e uma banda de música instrumental e um agrupamento coral me convidaram a cantar a Missa. No interior daquela igreja se via uma franja branca, na qual se lia escrito com caracteres cubitais: Hic domus mea, inde glorifica mea.
Continuando o sonho, quis perguntar à Pastora onde me encontrava; o que significavam aquela caminhada, as paradas, a casa, a primeira igreja e a segunda.
—Tudo o compreenderás —me disse— quando com os olhos materiais vejas quanto pudeste apreciar com os olhos da mente.
Mas, me parecendo que estava acordado, disse-lhe:
—Eu o vejo tudo claramente com meus olhos materiais; sei aonde vou e o que faço.
Naquele momento soou o sino do Ângelus da igreja de São Francisco de Assis e despertei.
Este sonho me ocupou quase toda a noite; vi durante ele outros muitos detalhes. Então compreendi pouco de seu significado, pois, desconfiando de mim dava pouco crédito a quanto tinha visto; mas tudo o fui compreendendo quando se impôs a realidade dos fatos.
As três paradas indicadas neste sonho representam o traslado do Oratório ao Refúgio da Marquesa Barolo, onde se instalou a primeira capela dedicada a São Francisco de Sales; a marcha deste lugar a São Martín dos Moinhos Dora e, por último, a ida à Casa Moretta, alugada por São João Bosco em novembro do 1845 e ocupada até a primavera do ano seguinte.
O pátio com seus pórticos e com a igreja que viu no sonho, são os do Oratório instalado já definitivamente no abrigo Pinardi; referimos-nos à primeira igreja contemplada na visão.
A segunda igreja, à qual qualifica de magnífica, não é outra que a de São Francisco de Sales, consagrada em 20 de junho de 1852.
A frase latina que aparece no sonho foi vista por São João Bosco em três ocasiões e formas distintas.
A primeira na "magnífica igreja" do sonho que acabamos de narrar em que pôde ver escrito em caracteres cubitais «HlC DOMUS MEA, INDE GLORIFICA MEA». A segunda vez lhe pareceu contemplar um mote parecido na Capela Pinardi: «HAEC EST DOMUS MEA, INDE GLORIFICA MEA". A terceira vez leu na fachada de uma casa capaz para dar acolhida a várias centenas de jovenzinhos, casa que ainda não existia: «HlC NOMEN MEUM, HINC INDE EXIBIT GLORIFICA MEA».
(Tomo II, págs. 243-245. —M. O. Déc. II, págs. 134-136)

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