sábado, 15 de agosto de 2009

sobre o estado das consciências — Parte 3 — 1860

Com esta postagem, terminamos este maravilhoso sonho, mas voltemos ao relato:
Relatos sobre os efeitos deste sonho sobre os alunos do Oratório
Na crônica de Dom Ruffino correspondente aos 11 de janeiro lê-se:
"Muitos jovens estão preocupados; muitos se preparam para fazer uma confissão geral. Muitíssimos desejam falar com (São) João Dom Bosco, o qual comunica a cada um deles coisas muito importantes relacionadas com o mais íntimo de suas consciências. A alguns, eu mesmo os vi chorar, como se lhes tivesse comunicado uma grande desgraça. Outros estão contentes porque puderam ouvir uma palavra de segurança sobre seu estado.
Um clérigo, ao qual conheço muito bem, pediu-lhe que dissesse algo sobre o estado de consciência em que se encontrava e (São) João Dom Bosco o expôs assim:
— Não desanimes, procura apartar teu coração das coisas do mundo. Abre bem os olhos para afastar as trevas de sua mente e para conhecer a verdadeira piedade que se opõe à própria glória. Procura com a medicina da Confissão remover todo obstáculo que pudesse fazê-la adoecer. Reaviva sua fé, a qual te fará conhecer e amar a vida de piedade. Aqui esta descrito teu estado.
No Oratório se sente um grande bem-estar. (São) João Dom Bosco disse em meio de um grande coro de moços em tempo de recreio:
— Há jovens na casa que avantajam em piedade a (Santo) Domingo Savio. Um especialmente, pouco conhecido, soube-me dizer depois da Missa, os pensamentos e distrações que eu tive durante a mesma".
As crônicas do Bonetti e Ruffino, em dia 13 de janeiro continuam:
Um bom número de artesãos, especialmente os encadernadores, foram a fazer sua confissão geral, sem que ninguém incitasse a isso.
Um aluno, havendo-se encontrado com (São) João Dom Bosco no pátio, perguntou-lhe:
— Me diga, como é que havendo-se confessado quase todos o dia de Natal viu você a tantos no sonho em tão deplorável estado?
— Perguntaste-me uma coisa — replicou o (Santo) — que não te posso esclarecer; eu sei, mas, embora não estou obrigado a secreto, em público não a direi nunca; há com tudo muitas outras que não posso as dizer nem em privado.
Esse mesmo dia disse (São) João Dom Bosco depois das orações:
— Ao ponto a que chegaram as coisas, vejo-me obrigado a falar e a abrir o véu deste sonho. Disse-lhes que ou tive durante três noites consecutivas. A primeira vez na noite de 28 de dezembro, repetindo-se nas datas do 29 e do 30. Na primeira noite se trataram pontos e questões de teologia referentes ao tempo presente, ou seja, coisas de atualidade e lhes asseguro que recebi muitas ilustrações do céu.
Na segunda noite falamos sobre diversos temas de moral, também relacionados com casos de consciência referentes a jovens do Oratório.
Na terceira noite se trataram casos práticos, pelos quais conheci o estado moral de cada jovem em particular.
O primeiro dia não quis fazer caso do sonho porque o Senhor o proíbe na Sagrada Escritura. Mas nestes dias passados, depois de ter feito algumas experiências, depois de ter falado com vários jovens em particular e de lhes haver exposto as coisas tal e como as vi, e de que eles me assegurassem que tudo era como eu lhes dizia, já não pude seguir duvidando, chegando à convicção de que se tratava de uma graça extraordinária que o Senhor concede a todos os filhos do Oratório.
Por isso me encontro na obrigação de lhes dizer que o Senhor os chama e lhes faz sentir sua voz e ai daqueles que fechem seus ouvidos a suas admoestações!
(São) José Dom Cafasso, pois, fez entrar em todos em uma sala e a todos proporcionou uma folha. Alguns tinham suas contas ajustadas por completo. Outros nada mais que os números, mas lhes faltava por fazer a soma.
— E todos aceitaram a folha que lhes oferecia?, — perguntou o mesmo (São) João Dom Bosco —. Não — respondeu-se a si mesmo — porque muitos ficaram fora, recostados nos jazigos de palha, outros sentados nos bancos; outros tendidos pelo chão ou jogados sobre a lama: alguns estavam tão cheios de feridas e de chagas que causavam repugnância.
Os que receberam o papel de mãos de (São) José Dom Cafasso com as contas passadas, saíram a fazer recreio, mas não todos jogavam, pois muitos deles tinham os olhos rodeados de uma névoa que lhes impedia de ver claro; outros os tinham enfaixados, não faltando quem mostrava o coração carcomido.
Os que tinham suas contas ajustadas representam aos de consciência reta.
Os que tinham o papel com os números escritos, mas sem a soma feita, com os que têm a consciência como deve ser, mas lhes falta a adição da última confissão.
Os que tinham os olhos circundados de névoa ou enfaixados, são os que se deixam dominar pelo espírito de soberba e pelo amor próprio. Os que estavam atirados pelos chãos poderia nomeá-los um a um e lhes dizer por que se encontravam sobre os jazigos de palha, sentados nos bancos ou no mesmo chão. Vi também o interior dos corações. Muitos os tinham cheios de coisas belas: de rosas, de açucenas, de muito fragrantes violetas. Estas flores simbolizam ás distintas virtudes. Outros em troca!... O coração carcomido representa a vos que alimentam ódios, rancores, invejas, antipatias, etc., etc.
Alguns tinham o coração cheio de víboras, símbolo dos pecados mortais; outros cheio de terra, representação do apego às coisas do mundo e aos prazeres sensuais.
Muitos eram também os de coração vazio, ou seja os que apesar de estar em graça de Deus e afastados das costumes do mundo e dos prazeres sensuais, ao mesmo tempo não procuram encher e coração com a piedade e com o santo temor de Deus. Estes tais vivem à boa e se não cair no primeiro laço que lhes tende o demônio não demorarão muito em corromper-se.
Encontro-me em condições de poder dizer a cada um seu passado, seu presente e algo do futuro
portanto, todos aqueles que não têm ainda em ordem as coisas de sua alma, ah!, que não aguardem mais tempo a ajustá-la. Que venham para mim e me prometam responder sinceramente a quanto lhes pergunte e se não se sentem com ânimo para falar, falarei eu por eles. Por fortuna encontro-me em condições de poder dizer a cada um seu passado, seu presente e algo do futuro.
Estou-lhes dizendo coisas que não devesse dizer. Ah, queridos jovens! Há um pensamento que me cheia de horror. Asseguro-lhes que jamais teria acreditado que houvesse em nossa casa um tão crescido número de jovens com ás consciências tão desordenadas, tão desarrumadas. Jamais o tivesse acreditado!
Quantos com o corpo coberto de chagas e tendidos pelo chão! Acreditem que passei noites e dias terríveis.
Uma palavra de parabéns àqueles que pensaram já em arrumar sua consciência; mas, até há muitos que não se determinaram a fazê-lo.
Ao dizer isto, notava-se em sua voz a emoção que lhe embargava e grosas lágrimas rodavam de seus olhos. Não poucos dos jovens choravam também. As palavras do (Santo) conseguiram o efeito desejado.
Em sua crônica de 15 de janeiro, Dom Ruffino deixou consignado:
"Os artesãos continuam fazendo sua confissão geral.
Hoje, alguns fizeram a (São) João Dom Bosco a seguinte pergunta:
— Como é que tendo tido este sonho em vésperas da festa de Natal, demorou tanto em contá-lo em público?
— Repetirei o que lhes disse em outra ocasião — replicou (São) João Dom Bosco —.
Depois de ter este sonho, não quis, por uma parte dar importância a quanto nele tinha visto, mas por outra me parecia que o tinha, por isso tive que refletir durante alguns dias sobre a conduta que devia seguir. Depois chamei um jovem dos que tinha visto mesmo horrivelmente cheio de chagas e lhe disse:
Naquele sonho se me tinha manifestado o estado das consciências de todos os jovens
— Você encontrasse em tal estado de consciência. Deduzia-o do estado em que o tinha visto.
— O tal respondeu-me que, efetivamente, era assim como eu dizia. Chamei a outro e me deu a mesma resposta; coincidindo sua resposta com o que eu tinha observado. Vi que também se cumpria em um terceiro quanto eu tinha visto. Então não me coube já a menor duvida. Naquele sonho se me tinha manifestado o estado das consciências de todos os jovens; o estado presente e até o futuro de muitos deles.
(São) João Dom Bosco assegurou também a alguns de seus íntimos:
— Adquiri maiores conhecimentos teológicos naquelas três noites, que durante todo o tempo de estudo no Seminário".
Dom Ruffino prossegue em sua crônica correspondente aos 16 de janeiro:
"Falando (São) João Dom Bosco com alguns depois da comida, dizia-lhes:
— Quando se trata da ofensa de Deus, não terá que ter nada em consideração com tal de que se chegue a impedi-la.
O (Beato) Miguel Dom Rúa então perguntou-lhe:
— O que nos contou é sonho ou realidade?
— Nem eu mesmo saberia precisar — replicou o Santo — . O certo é que quando tive terminado, encontrava-me sentado na cama e por certo que sentia muito frio.
E ao dizer isto, sorria.
Que quanto (São) João Dom Bosco contava não eram simples sonhos, demonstram-no os efeitos de seus relatos.
Quando Francisco Dalmazzo chegou ao Oratório, Dom Bosco perguntou-lhe:
O que quer ser quando tiver terminado aqui seus estudos?
—Farmacêutico ou algo parecido — respondeu o jovenzinho —
— Não te agradaria ser sacerdote?
— Não, não.
— Contudo, quero fazer-te sacerdote.
Dalmazzo olhou a (São) João Dom Bosco sonriendo e replicou:
— Oh! Não o conseguirá.
Passaram já três largos meses do curso e Dalmazzo é um dos mais aficionados a [São] João Dom Bosco, ao que diz já reiteradamente:
— Se ao Senhor agrada isso, far-me-ei sacerdote".
Continua a crônica de Dom Ruffino em dia de 26 de janeiro:
"Parece ser que (São) João Dom Bosco viu em sonhos a outros jovens que agora não estão no Oratório.
Como lhe rodeassem alguns de seus confidentes, recordando o (Santo) a certos jovens que tinham estado no Oratório e que no presente levavam má vida, exclamou:
— Oh, se lhes pudesse falar! Eu acredito que ao ver suas faltas postas ao descoberto se emendariam. Por exemplo, ao Ard... jamais o conheci e, entretanto, poder-lhe-ia dizer o estado de sua consciência.
Dito isto, guardou silêncio e depois de permanecer algum tempo pensativo, continuou:
— Sim de noite pudesse ver como pela manhã, confessaria a um triplo número de jovens. Pela manhã, enquanto confesso a um, tenho a muitos diante de mim aguardando turno. A todos os tenho confessados, embora não me tenham falado.
A este conhecimento sobre o estado das consciências, acrescentava-se a bondade com que acolhia aos penitentes.
Beije-me somente a mão conforme se acostuma ao sacerdote
Em certa ocasião foi confessar se com ele certo jovem. Uma vez terminada a confissão, o penitente lhe disse:
— Teria ainda uma coisa que lhe dizer.
— O que? Fala!
— Desejaria que me permitisse lhe beijar os pés.
— Não faz falta. Beije-me somente a mão conforme se acostuma ao sacerdote.
O jovem começou a chorar copiosamente acrescentando:
— Feliz por mim, se no passado tivesse aberto os olhos como no presente! O Senhor me fez ver claro esta noite.
E partiu soluçando. Quando serenou-se voltou para tratar com (São) João Dom Bosco sobre as coisas de sua alma".
Assim terminamos esse maravilhoso sonho de São João Bosco, osculando em espírito a mão dele. E pedindo que interceda por nos a Nossa Senhora.
(M. B. Tomo VI. págs. 817-822)

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