sábado, 15 de agosto de 2009

Documentos comprometedores; ajuda da Providência — 1860

Tendo escrito desde Lyon uma carta a São João Bosco Mons. Fransoni, Arcebispo do Turim, dita carta não chegou a seu destino.
Pouco tempo depois, foi entregue ao Santo uma nota do mesmo Arcebispo por mediação de um amigo, na qual o prelado se lamentava de que [São] João Dom Bosco não lhe tivesse respondido, acrescentando que já nada necessitava sobre o favor solicitado, pois se tinha dirigido a outras pessoas para fazer chegar a seu destino certas instruções.
Só alguns anos depois pôde conhecer São João Bosco esta nova prova de confiança que lhe tinha dado seu prelado.
Mas como se perdeu aquela carta? Tinham-na reconhecido no Correio, abrindo-a e seqüestrando-a por ordem ministerial.
São João Bosco, como não tinha idéia de semelhante carta, estava tranqüilo quando três dias antes do mandado de busca e apreensão ditado contra ele, na noite da quarta-feira à quinta-feira, teve um sonho, que foi de muito proveito. Eis aqui como o contou ele mesmo:
"Pareceu-me ver entrar em minha habitação uma equipe de salteadores que se apropriaram de minha pessoa e depois de revisar todas minhas cartas e papéis, registraram todos os armários e revolveram todos os escritos.
Então, um deles, com ar bondoso disse-me: — por que não tirou dos seus papeis tal e tal escrito? Gostaria que se encontrassem aquelas cartas do Arcebispo, que poderiam proporcionar sérios desgostos a você e a ele? E aquelas outras de Roma que já quase esquecidas estão aqui — e indicava o sítio — e aquelas outras que estão lá? Se as tivesse feito desaparecer ter-se-ia livrado de muitas moléstias".
"Ao fazer-se de dia — continuava São João Bosco — como em plano de brincadeira contei este sonho, que considero como um fato de minha fantasia. Mas apesar disso, pus em ordem algumas coisas e tirei do meio alguns escritos, cuja leitura poderia me prejudicar.
Tais escritos eram algumas cartas confidenciais, que em realidade nada tinham que ver com a política nem com o governo. Mas os inimigos da Igreja podiam considerar como delito toda instrução recebida do Papa ou do Arcebispo sobre o modo de conduzir-se dos sacerdotes em certas dúvidas de consciência.
Portanto, quando começaram as buscas eu tinha guardado já em outra parte tudo que tivesse podido dar o menor matiz de relações políticas a nossos assuntos".
Esta é a causa do desaparecimento de certas cartas autógrafas dos primeiros tempos do Oratório —continua Dom Lemoyne—. Para este traslado de papéis (São) João Dom Bosco teve que servir-se dos jovens de sua maior confiança, os quais, em sua precipitação, não tendo entendido bem as ordens recebidas, queimaram parte dos escritos, parte os esconderam e outros os entregaram a pessoas de confiança em Turim. Por isso, a maior parte dos preciosos documentos que se referem às relações com a Sede Apostólica; algumas Cartas do Beato Papa Pio IX; as cópias das cartas de São João Bosco e o Papa Pio IX; a correspondência do 1851 com e Arcebispo do Turim; as relações epistolares com alguns homens de Estado, especialmente com os ministros; as Memórias e apontamentos sobre os sonhos, que São João Bosco estava acostumado a escrever e conservar para seu consolo; a narração de graças concedidas pela Virgem, de fatos milagrosos e de ações extraordinárias dos jovens, como também dados de pura curiosidade perderam-se para sempre.
Não houve tempo para fazer uma judiciosa seleção antes do traslado.
Vários destes documentos mais antigos os conservava consigo José Buzzetti e, sem pensar em nada mais, destruiu-os preocupado unicamente da segurança pessoal de (São) João Dom Bosco.
Chegou inclusive a esquecer o lugar aonde foram escondidos muitos destes papéis, e anos depois foram encontrados sob uma trave da Igreja de São Francisco de Sales.
Não deve nos maravilhar este lamentável esbanjamento, pois os fatos nos demonstram que tal celeridade no obrar foi coisa obrigada; e o que mais chamou a atenção de (São) João Dom Bosco, foi que os investigadores procuraram e reviraram especialmente, aqueles sítios nos quais tinham estado estas cartas; isto é, nos locais indicados no sonho.
(M. B. Volume VI, págs. 546-547)

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