sábado, 15 de agosto de 2009

A serpente e a Ave Maria; a salvação por meio do Santo Rosário, da confissão e da comunhão — Parte II - 1862

Anteriormente tínhamos iniciado a narração deste sonho de São João Bosco relativo ao papel da oração na nossa salvação eterna e especificamente através do rezo do Rosário. Na parte de hoje São João Bosco acrescenta o papel da confissão e comunhões freqüentes como meios poderosos para nos afastar do mal, mas retomemos o relato das Memórias Biográficas de São João Bosco.

Exposta a nossos leitores — continua Dom Lemoyne — nossas pobres idéias sobre o significado da casinha de Murialdo e da árvore vista por (São) João Dom Bosco no sonho, façamos uso da Crônica de Dom Provera, que oferece-nos outras diversas circunstâncias do sonho, citando algumas palavras de (São) João Dom Bosco.

Diz assim: "Em 21 de agosto de noite estávamos todos impacientes por ouvir a segunda parte do sonho que (São) João Dom Bosco tinha anunciado proclamando de grande interesse e proveito para todos, mas nossos desejos não ficaram satisfeitos. (São) João Dom Bosco subiu, como de costume, a sua tribuna e disse:

—Ontem noite anunciei-lhes que hoje ia contar-lhes a segunda parte do sonho, mas muito a meu pesar acredito que não devo manter minha palavra.

Seguidamente, de todas partes se elevou um murmurinho que indicava a contrariedade e o desgosto geral. O (Santo), depois de deixar que se serenassem os ânimos, prosseguiu:

— O que querem? Pensei-o ontem de noite, pensei-o hoje e convenci-me que não é conveniente contar a segunda parte de sonho, pois contém coisas que não quereria se soubessem fora de casa. Contentem-se, pois, tirando algum proveito do que lhes disse ao narrar-lhes a primeira parte.

Ao dia seguinte, que era 22 de agosto, rogamos-lhe insistentemente que se não queria fazê-lo em público, ao menos nos contasse em privado a segunda Parte do sonho. Resistia a condescender com nossos desejos, mas depois de reiteradas súplicas acedeu e assegurou-nos que de noite continuaria o relato. Assim o fez. Rezadas as orações, continuou:

"Dadas suas contínuas petições, contarei a segunda parte do sonho. Se não tudo, ao menos dir-lhes-ei aquilo que posso referir-lhes. Mas antes é necessário que assinale uma condição, ou seja, que ninguém escriba nem diga fora de casa o que vou contar. Comentem entre vocês, tomem a risada se quiserem, façam o que lhes agrade, mas só entre Vós".

Enquanto falávamos aquele personagem e eu sobre o significado da corda e da serpente, voltei-me para trás e vi alguns jovens que agarrando os pedaços da carne da serpente, os comiam. Então gritei-lhes imediatamente:

— Mas o que é o que fazem? Estão loucos? Não sabem que essa carne é venenosa e que far-lhes-á muito dano?

Não, não — me respondiam os jovens —, está muito boa.

Mas, depois de havê-la comido, caíam ao chão, inchavam-se e tornavam-se duros como uma pedra.

Eu não sabia quedar em paz, porque apesar daquele espetáculo, cada vez era major o número de quantos jovens comiam daquelas carnes. Eu gritava ao um e ao outro; dava bofetadas a este, um murro a aquele, tentando impedir que comessem; mas era inútil. Aqui caía um, enquanto que lá começava a comer outro. Então chamei os clérigos em meu auxílio e disse-lhes que se mesclassem entre os jovens e se organizassem de maneira que nenhum comesse aquela carne. Minha ordem não obteve o efeito desejado, mas sim que alguns dos mesmos clérigos ficaram também a comer as carnes da serpente caindo ao chão ao igual dos outros. Eu estava fora de mim quando vi a meu redor a um tão grande número de moços tendidos pelo chão no mais miserável dos estados.

Voltei-me então para desconhecido e disse-lhe:

— Mas o que quer dizer isto? Estes jovens sabem que esta carne ocasiona-lhes a morte, e com todo a comem.

— Qual é a causa?

Ele respondeu-me:

—Já sabes que animalis homo non pércipit ea quae Dei sunt. (Alguns homens não percebem as coisas que são de Deus)

— Mas não há remédio para que estes jovens voltem em si?

— Sim que o há.

— E qual seria?

— Não há outro mais que a bigorna e o martelo.

— A bigorna? O martelo? E como terá que empregá-los?

— Terá que submeter aos jovens à ação de ambos os instrumentos.

— Como? Acaso devo colocá-los sobre a bigorna e logo golpeá-los com o martelo?

Então meu companheiro, explicando seu pensamento, disse:

— Olhe: o martelo significa a Confissão; a bigorna, a Comunhão; é necessário fazer uso destes dois médios.

Pus mãos à obra e comprovei que eram os indicados, remédios eficacíssimos, embora para alguns resultassem inúteis; tais eram os que não faziam boas confissões.

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