sábado, 15 de agosto de 2009

O futuro do Oratório – 1845

O presente sonho também é conhecido com o título de "O sonho da cinta mágica". Eis aqui o texto do mesmo tal como esta narrado nas Memórias Biográficas:
Pareceu que me encontrava em uma grande planície ocupada por uma imensa multidão de jovens. Uns brigavam entre si, outros blasfemavam.
Aqui se roubava, lá se ofendiam os bons costumes. Uma nuvem de pedras sulcava os ares, lançadas pelos que faziam guerrilhas, uns contra os outros. Eram, pois, jovens corrompidos, abandonados por seus pais. Eu estava para me afastar daquele lugar quando vi junto a mim a uma Senhora que me disse:
—Ponte em meio desses jovens e trabalha.
Eu obedeci, mas o que fazer? Não havia local algum para acolhê-los; desejava fazer-lhes um pouco de bem e dirigi-me a algumas pessoas que me contemplavam de longe e que me teriam podido ajudar muito eficazmente; mas ninguém me fazia caso, nem me queria socorrer. Então dirigi-me a aquela Matrona, a qual me disse:
—Aqui está o local, e me assinalou um prado.
—Mas, isto não é mais que um prado, observei eu.
Ela me respondeu:
—Meu Filho e os Apóstolos não tiveram um palmo de terreno onde reclinar a cabeça.
Comecei, pois, a trabalhar naquele prado, admoestando, pregando, confessando, mas comprovei que com a maior parte daqueles jovens meus esforços eram inúteis se não encontrava um lugar fechado e alguns edifícios para albergá-los; sobre tudo para os que tinham sido abandonados por seus pais e repudiados e desprezados pela sociedade. Então aquela Senhora me conduziu um pouco mais para o norte e me disse:
—Olhe!
E ao dirigir minha vista para o lugar indicado, vi uma igreja pequena e baixa, um pequeno pátio e muitos jovens. Recomecei meu trabalho. Mas como a igreja era insuficiente, recorri de novo à Senhora e Ela me fez ver um templo maior e junto a ele uma casa. Depois, me levando para outro lado, a uma parte de terreno cultivado, quase frente à fachada da segunda igreja, acrescentou:
—Neste lugar, onde os Santos Mártires do Turim, Aventor e Octavio sofreram o martírio, sobre esta terra banhada e santificada com seu sangue, desejo que Deus seja honrado de um modo especialíssimo.
E ao dizer isto, adiantou um pé assinalando o lugar onde ditos Santos foram martirizados, indicando-me isso com toda precisão. Eu quis colocar algum sinal para recordá-lo quando voltasse para aquele lugar, mas não encontrei nada a meu redor; nem um pau, nenhuma pedra; contudo, ficou fixado na minha memória com toda precisão. Corresponde dito lugar exatamente ao ângulo interno da capela dos Santos Mártires, antes de Santa Ana, situada ao lado do Evangelho na igreja da Maria Auxiliadora.
Enquanto isso me vi rodeado de um número cada vez mais crescente de jovens; mas dirigindo o olhar a aquela Senhora, aumentavam também os meios e o local. Vi depois uma igreja maior, precisamente no lugar em que me havia dito que haviam sofrido o martírio os Santos da Legião Tebana e ao redor dela numerosos edifícios e um monumento no centro.
Enquanto aconteciam estas coisas, eu sempre em sonhos, vi que me ajudavam em meu trabalho alguns sacerdotes e clérigos, que depois de estar comigo algum tempo, abandonavam-me. Eu procurava com grande empenho atraí-los, mas eles pouco a pouco partiam me deixando sozinho.
Então me dirigi à Senhora novamente, a qual me disse:
—Queres saber o que tendes de fazer para que não te abandonem? Toma esta cinta e ate-lhes com ela a fronte.
Tomei com toda reverência uma cinta branca da mão da Senhora e vi que nela estava escrita esta palavra: OBEDIÊNCIA.
Provei de fazer imediatamente o que Ela me tinha indicado e comecei a atar a cabeça de meus auxiliares voluntários com a cinta, comprovando que se produzia seguidamente um efeito maravilhoso; efeito que ia em aumento enquanto eu continuava entregue à missão que me tinha sido assinalada, pois aqueles sacerdotes e clérigos desprezavam o pensamento de partir a outra parte, ficando comigo e me ajudando em meu trabalho. Assim ficou constituída a Congregação.
Vi também outras muitas coisas que não é do caso relatar nestes momentos; baste dizer que após prosseguir a rota empreendida com segurança, seja a respeito do Oratório, seja em relação à Congregação; bem como sobre a maneira de me conduzir em minhas relações com as pessoas externas revestidas de alguma autoridade. As grandes dificuldades que sobrevirão estão todas previstas e conheço quais meios tenho que empregar para as superar. Vi detalhadamente quanto nos acontecerá e prossigo adiante a plena luz. Depois de ter contemplado Igrejas, casas, pátios, jovens em grande número, clérigos e sacerdotes que me ajudavam e a maneira de levá-lo tudo adiante, comecei a dar a conhecer alguns, certas coisas como se já existissem, por isso muitos chegaram a acreditar que eu tinha perdido a cabeça.
Um dos detalhes que mais chama a atenção neste sonho é o relacionado com o lugar indicado pela Muito Santa Virgem como cenário do martírio dos Santos Adventor e Octavio. Nossa Senhora não menciona ao Solutor, porque parece ser que este santo mártir ao ser ferido por uma lança conseguiu escapar, indo depois a morrer a Ivrea.
Sobre esta circunstância da designação do sítio preciso em que sofreram o martírio Adventor e Octavio, São João Bosco deixou consignado o seguinte: "Jamais quis contar este sonho a ninguém e muito menos dar a conhecer minha fundada opinião sobre o lugar exato do glorioso martírio do Adventor e Octavio".
"Mais tarde, em 1865, sugeri ao Cônego Gastaldi a idéia de que escrevesse as vistas dos três Santos mártires da Legião Tebana e fizesse indagações para encontrar o lugar preciso de seu martírio, servindo-se dos dados subministrados pela história, a tradição e a topografia". O douto eclesiástico aceitou a idéia; redigiu e deu à imprensa umas memórias sobre o martírio dos intrépidos confessores da fé, tirando como conclusão de seu documentado estudo que se ignorava o lugar preciso do mesmo, mas que se sabia com toda certeza que se refugiaram fora da cidade, perto do rio Doura e que foram descobertos e sacrificados por seus perseguidores nas proximidades do lugar em que se esconderam.
O grande trecho existente entre os muros da cidade e o rio Doura, para o ocidente do bairro deste nome, foi conhecido na antigüidade com a denominação latina do Vallis ou Vallum occisorum, que se transformou com o tempo em Valdocco, aludindo possivelmente aos mártires ali sacrificados.
Segundo o Cônego Gastaldi, tendo à vista a topografia da cidade do Turim, o Oratório de São Francisco de Sales se levanta precisamente no lugar bendito regado com o sangue dos confessores de Cristo.
São João Bosco alegrou-se muito desta opinião que devia confirmar quanto tinha visto no sonho; professando após uma grande devoção aos Santos mártires. Todos os anos, na festividade de São Mauricio, incorporando o nome e a glória do chefe ao dos outros da Legião Tebana e de uma maneira especial a seus três esclarecidos soldados, Adventor, Solutor e Octavio, quis que se celebrasse dita festividade com solenes atos religiosos.
(M. B. Tomo II, págs. 298-300)

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