sábado, 15 de agosto de 2009

Conversas com Luis Comollo e o Cálice — 1847

Luis Comollo foi companheiro de São João Bosco no Seminário do Chieri; jovem de virtudes, logo fez grande amizade com o Santo.
Luis era o monitor do João e vice-versa. Amizade pura, desinteressada, nobre, de verdadeira emulação. De saúde precária, Comollo chegou a adoecer e morreu santamente em 2 de abril de 1839. Isto afligiu profundamente o coração sensibilíssimo do João, causando-lhe ao mesmo tempo graves transtornos na saúde.
Os dois amigos e êmulos na virtude discorreram sobre coisas espirituais, e chegaram a prometer-se reciprocamente, meio brincadeira e meio em sério, o comunicar-se depois da morte, a sorte corrida ao passar as soleiras da eternidade; promessa que conheciam muitos outros de seus companheiros.
Precisamente na noite do 3 ao 4 de abril, portanto na noite seguinte ao enterro de Luis Comollo, na madrugada, e quando todos dormiam, ouviu um estrondo formidável no dormitório de João, enquanto uma luz muito viva avançava a sua cama e uma voz lhe dizia clara e distintamente:
—Bosco, Bosco, salvei-me! Cessou seguidamente o ruído e pouco a pouco desapareceu a luz.
João, incorporado no leito e sobressaltado ante aquela visão, distinguiu perfeitamente a voz de seu amigo, quem tinha vindo a cumprir a palavra empenhada.
Os seminaristas que ocupavam as camas imediatas, também o ouviram. Alguns, aterrados, saltaram do leito e agrupados em torno do vigilante passaram acordados o resto da noite, não faltando quem fosse a refugiar-se na Capela. O fato produziu um revôo, mas tudo serviu para pôr de relevo a robusta personalidade do seminarista de Becchi.
Este levou, entretanto, a pior parte, pois o acontecimento lhe custou uma enfermidade longa e penosa. Depois, ilustrado por esta experiência, acostumava a aconselhar que não se fizessem tais pactos; pois não é fácil à fraqueza humana suportar ás relações com o sobrenatural.
Ao produzir-se, pois, o sonho que vamos expor a seguir e no qual aparece novamente Luis Comollo, tinham passado já mais de seis anos da morte de este.
Eis aqui o que narra Dom Lemoyne:
"A habitação ocupada por São João Bosco foi sempre considerada pelos jovens como o santuário das mais belas virtudes; como um tabernáculo no qual a Muito Santa Virgem sentia prazer em lhe manifestar a vontade divina; como um vestíbulo que punha ao Oratório em comunicação com ás regiões celestes. E quantos entravam nela, não podiam deixar de experimentar um sentimento de profunda reverência.
Mamãe Margarida não pensava diversamente. Ela mesma tinha transladado seu próprio leito à habitação mais próxima a de seu filho. Estava persuadida, pois assim o tinham demonstrado alguns fatos, de que seu filho passava em oração grande parte da noite e de que naqueles dias acontecia algo surpreendente que ela não sabia explicar.
Em efeito: Margarida contava ao jovem Santiago Bellia que em certa ocasião, algumas horas antes do amanhecer, tinha ouvido conversações com [São] João Bosco em sua habitação. Umas vezes lhe parecia que respondesse às perguntas que lhe faziam e outras, que respondia a seu interlocutor. Apesar da atenção da boa mulher, não pôde entender nenhuma só palavra daquele estranho diálogo. Pela manhã, embora tivesse a segurança de que ninguém poderia entrar na habitação de [São] João Bosco sem que ela o notasse, perguntou a seu filho com quem tinha estado falando. Este lhe respondeu:
—falei com o Luis Comollo.
—Mas Comollo faz anos que morreu, — replicou Margarida.
—E, contudo, é assim, falei com ele.
São João Bosco não acrescentou explicação alguma, dando amostras de que uma grande idéia lhe preocupava. Aceso o rosto como uma brasa e com os olhos extraordinariamente brilhantes, foi presa de uma emoção que lhe durou vários dias.
O jovem Santiago Bellia, que figura neste relato, foi um dos afortunados escolhidos por São João Bosco em 1849 para formar a Congregação Salesiana. Vestiu o hábito clerical de mãos do fundador em 2 de fevereiro de 1851.
"Pouco tempo depois —continua Dom Lemoyne— [São] João Bosco necessitava um cálice e não sabia como adquiri-lo, pois não dispunha da quantidade necessária para comprá-lo. Quando eis que uma noite foi-lhe indicado em um sonho que em seu baú havia uma quantidade suficiente para tal objeto. À manhã seguinte foi ao Turim para vários assuntos e enquanto caminhava com a mente fixa no sonho da noite precedente, pensava ao mesmo tempo na satisfação que sentiria se aquele sonho se fizesse realidade; de forma que se decidiu voltar para casa e registrar o baú. Ao fazê-lo, encontrou-se nele oito escudos. Precisamente a quantidade que necessitava para a compra do cálice. Nenhum estranho podia ter posto aquela soma ali, porque a casa estava sempre fechada. Sua mãe não dispunha de dinheiro para lhe proporcionar semelhantes surpresas, ficando também ela gratamente surpreendida quando soube do acontecido".
(M. B. Tomo III, págs. 30-31)

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